Nesse dia 10 de janeiro de 2021 partiu uma torcedora símbolo do Goiás Esporte Clube, Jodelmi Cardoso, Tia Fia. Como atleticano, mas, fundamentalmente como um torcedor apaixonado do futebol como expressão de paixões coletivas e festa comunitária, alegria do povão, antítese do “Futebol Mercadoria”, não poderia deixar de expressar meu profundo pesar com o falecimento de Tia Fia.
Não tive o prazer de encontrá-la pessoalmente mas compartilhei com ela uma entrevista especial para a TV Record, em março de 2019, em que, antes do clássico Atlético x Goiás, fizeram uma matéria com um torcedor de cada clube. Ali pude perceber a pessoa simples, o amor incondicional, a paixão que realiza o verdadeiro sentido do futebol.
Tia Fia quebrava também muito do preconceito, do machismo, que diz que futebol “é coisa de homem”. Me lembro perfeitamente da jornalista Paula Parreira defendendo que na eleição para o nome do novo mascote do Goiás deveria ser cogitado como opção colocarem “Tia Fia” e não a adaptação “Tio Fio” que foi apresentada. Tia Fia, sem aceitar qualquer exclusão das mulheres do mundo do futebol, soma-se a torcedoras símbolo do futebol goiano como foi “Maria Fã” no Atlético Goianiense nos anos 50 e “Nega Brechó” no Vila Nova até os dias de hoje.
Tia Fia ao lado de “Seu Arlindo”, conhecido como “Seu Goiás”, que morava ali no Jardim Guanabara e levava seu papagaio para os jogos do clube esmeraldino, são exemplos de que pouco vale essa história de “Arena”, “Torcedor-Consumidor”, “Futebol Padrão Copa do Mundo”, Uniforme com preço astronômico mas de “marca famosa”, “ Ajuda de Empresário” … Não !! Futebol é outra coisa, são os torcedores do Goiás como Tia Fia e Seu Goiás, do Atlético como Divinão, Barreto e Maria Fã, do Vila como a Brechó e Mãe Cármem. É arquibancada, é doação, é amor do mais humilde, do que não pede nada e entrega tudo. Dirigentes passam, Diretorias mudam, time perde, time ganha, fases boas vão e vem, e essa gente humilde jamais abandona o clube.
O Goiás do Mercado do Setor Pedro, dos terminais lotados de gente simples e trabalhadora indo ao estádio em dias de jogos, das periferias, o Goiás de Tia Fia… Esse é o que fica na memória.
Tia Fia sua passagem por aqui é exemplo pra todos, que nunca deixemos esse tipo de paixão se perder. Força a todos familiares, e em especial faço essa homenagem lembrando de esmeraldinos que tanto gosto e hoje sofrem essa perda como Jose Carlos Lopes, Frederico Frazão, Elder Dias e Gerliezer Paulo.
Honras da torcida atleticana e da torcida goiana para Tia Fia.
Texto de Paulo Winicius “Maskote” – Diretor de Patrimônio Histórico e Cultural do Atlético Goianiense, Historiador, Professor, Doutorando em História pela USP, Sócio Proprietário do Atlético.
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