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domingo, 5, maio 2024
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José Silvério relembra amizade com Edson Rodrigues: “Quem passa fome junto, fica amigo”

Renome do rádio esportivo relembra dificuldades vividas ao lado do Monstro Sagrado no RJ

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Por: Juliano Moreira

A morte do narrador Edson Rodrigues, na manhã desta quinta-feira (26), tem gerado bastante comoção no mundo esportivo, principalmente entre os que conviveram com o “Monstro Sagrado”. Dentre as pessoas que tiveram esse privilégio, está José Silvério, que foi um de seus maiores colegas de profissão.
 
Amigo de Edson Rodrigues desde os primeiros passos no rádio, Silvério relembra o começo difícil que os dois tiveram como narradores. De acordo com ele, ambos saíram de Belo Horizonte e foram para o Rio de Janeiro, onde encontraram um mar de espinhos, ficando, inclusive, sem receber salário.
 
“Eu e o Edson (Rodrigues) tivemos uma amizade muito grande. Nós saímos de Belo Horizonte e fomos para a Rádio Continental, no Rio de Janeiro. Eu saí da Rádio Inconfidência e ele saiu da Rádio Itatiaia. Lá, nós encontramos um mar de espinhos. Não recebíamos salário, não tínhamos dinheiro para comer. Não tinha nada. Eu deixei a minha família em Lavras, porque não dava para levar para o Rio de Janeiro, pois não tinha onde ficar e eu não tinha dinheiro para tratar deles. Então, deixei minha mulher e dois filhos em Lavras, na casa de alguns parentes, e fui cuidar da vida, tentando alguma coisa. Felizmente, passamos por isso por pouco tempo. De repente, eu e o Edson encontramos um caminho, uma luz no fim do túnel. Eu fui para São Paulo, onde eu digo para todos que foi o lugar em que minha vida começou. E minha vida mudou. Eu passei a comer no dia certo e voltei a tratar dos meus filhos de maneira correta. E deu tudo certo”, contou José Silvério.
 
O narrador completou dizendo que ficou muito chocado com a morte de Edson Rodrigues e lembrou das dificuldades que os dois tiveram em solo carioca. Segundo Silvério, os dois chegaram a passar fome, precisando guardar o dinheiro que recebiam para viajarem e transmitirem jogos em outros locais.
 
“Eu fiquei muito chocado. Não estou nem conseguindo ficar muito pensativo para falar do Edson. Quando nós ficamos no Rio de Janeiro, trabalhando na Rádio Continental, nós tivemos muita coisa juntos. Até mesmo fome. Tínhamos que arrumar comida. E dávamos um jeito. De vez em quando, viajávamos e guardávamos o dinheiro da diária, para dividir por alguns dias. E o Edson se tornou meu grande amigo. Nós trabalhávamos juntos e nos tornamos grandes amigos, de família e tudo mais. No Rio de Janeiro, nós encontramos, literalmente, um mar cheio de espinhos. Então, foi muito difícil a nossa vida. Agora, eu recebi essa notícia. Para o Edson, foi um alívio. Ele já estava há algum tempo precisando, pois estava doente. Ele é um pouquinho mais velho do que eu e eu lamento profundamente. Estou aqui com os olhos cheios d’água com essa notícia que me “pegou”. É muito triste perder um companheiro. E o rádio, que já está tomando tanta porrada, perde um dos seus grandes locutores, que é o Edson. Ele era o melhor locutor de Goiânia e eu sabia que ele era excepcional. É uma pena, uma tristeza muito grande. É mais um que desfalca o rádio”, disse Silvério.
 
Além disso, Silvério relembrou quando ele e o amigo Edson Rodrigues começaram a melhorar suas vidas, encontrando empregos melhores, onde o “Monstro Sagrado” acabou vindo para Goiás. Depois, mesmo separados geograficamente, os dois mantiveram a amizade e passaram a rir do tempo de dificuldade.
 
“Quem passa fome junto, fica amigo. Eu e o Edson fomos para o Rio de Janeiro para trabalhar. Nós não tínhamos dinheiro. E a Rádio Continental piorava a nossa situação, pois não pagava o nosso salário em dia. Então, nós dois ficávamos catando moedas. Num determinado momento, o Edson arrumou um emprego de correspondente de uma rádio. Não me lembro qual, mas ele ficou narrando para ela e ganhando cachê. E, nesta mesma época, eu consegui um emprego na Rádio Tupi, de São Paulo, que fazia a loteria esportiva. E eu comecei a narrar jogos do Rio de Janeiro. Eu parei de passar fome, comprei um Fusca vermelho e cuidei da minha família, que tinha quatro pessoas que dependiam de mim. E a vida começou a melhorar. E, neste papo, consegui uma abertura no mercado de São Paulo, que é o melhor do Brasil e fui para a Jovem Pan. E, logo depois, o Edson arrumou o emprego para voltar para Goiânia. E isso foi muito importante para a vida dele. Ele voltou e “clareou” a vida dele. Eu fiquei em São Paulo. E, quando nós nos encontrávamos, ríamos bastante do tempo em que não comíamos”, lembrou José Silvério.
 
Por fim, ao deixar uma última mensagem para Edson Rodrigues, José Silvério se diz perdido e cheio de lágrimas. O locutor afirma que o período no Rio de Janeiro serviu para que a amizade entre os dois se tornasse uma irmandade, a qual ele classifica como algo espetacular.
 
“Eu não tenho que falar nada. Eu estou perdido. Estou cheio de lágrimas. Nesse período em que estivemos no Rio de Janeiro, no início da década de 1970, nós não éramos apenas amigos. Nós éramos irmãos. Um ajudava o outro. Nenhum dos dois levou a família para o Rio de Janeiro, pois sabíamos das condições. Então, nós comíamos o que podíamos, dividindo pão, dividindo comida. Sinceramente, não dá para falar. Foi uma coisa muito triste e, ao mesmo tempo, muito forte, pois revelou uma amizade. Era uma coisa espetacular. É muito difícil continuar falando”, finalizou Silvério.

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