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sexta-feira, 22, novembro 2024
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Atlético e Vila, de 1970 a 1979 e de 98 a 2023 – As decisões entre dois clubes de origem comunitária

Atlético Goianiense e Vila Nova são dois clubes de origem popular, são representantes da comunidade dos bairros que receberam e onde passaram a morar os trabalhadores braçais

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Por Paulo Maskote

Os protagonistas da 81ª edição do Campeonato Goiano guardam várias semelhanças, trajetórias comuns, um histórico de decisões e de grande rivalidade. Atlético Goianiense e Vila Nova são dois clubes de origem popular, são representantes da comunidade dos bairros que receberam e onde passaram a morar os trabalhadores braçais que construíram Goiânia, os operários da Vila Nova e da Vila Operária – bairro que depois mudou seu nome para Setor Centro Oeste, localidade integrada ao Bairro de Campinas e onde fica o Estádio Antônio Accioly.

Uma história

No dia dezesseis de julho de 1944, constando no elenco atleticano o notável Bariani Ortêncio, o “Paulistinha”, ocorreu o primeiro encontro do Atletigre – o Dragão venceu o Tigre por 11 a 0 no Estádio Olímpico. Ainda nos anos 40 o Atlético “raptou” o artilheiro Tarzan, do Vila Nova, que havia sido o maior goleador do campeonato goiano de 1946, e que no Dragão foi o artilheiro das edições de 48 e 49.

Se o “Tigre da Vila Famosa” passou por dificuldades nas duas primeiras décadas do futebol goiano – chegando mesmo a encerrar suas atividades profissionais de 1951 a 1954 – na década de 1960 começou com tudo. Já engrenando um tricampeonato e só não chegou ao tetra em 1964 porque, naquele ano, o Atlético conquistou o caneco com um time apelidado de “Rolo Compressor”, e não deu brecha para o colorado. E foi nos anos 60 que se consolidou a maior rivalidade do futebol goiano na década – o embate Atlético x Vila Nova – superando o clássico hegemônico do período anterior, que era entre Goiânia x Atlético.

Nos anos 60 o Vila Nova além do tricampeonato, foi vice-campeão de 1965 e 1966, e novamente campeão de 1969, o Atlético foi vice-campeão em 1960 e 1967. O Dragão teve ótimos desempenhos no Campeonato Brasileiro da época, chamado de Taça Brasil, ficando em 10º lugar na edição de 1965 e, com uma campanha fantástica em 1968, alcança um 6º lugar – enfrentando no Estádio Olímpico o time do Cruzeiro dos campeões mundiais: Piazza, Raul e Tostão – posição que foi por quase 30 anos a melhor colocação de um time goiano no Campeonato Brasileiro.

Detalhe importante é que nessa edição da Taça Brasil de 1968, um dos maiores ídolos do Vila Nova, Guilherme, jogou pelo Atlético. O Dragão também foi campeão da Copa Goiás de 1968, disputada contra Vila Nova, Crac, Anápolis e Goiás.

Mas Atlético e Vila Nova já decidiram um título antes de 2013? Sim!
1970 – No duelo dos times da última década, deu Dragão na cabeça.

Os dois “clubes do povo” (a revista Placar de 11/12/1970 assim chamava Vila e Atlético: “… os dois times do povo, de maior torcida de Goiás…”) se enfrentaram na última rodada do campeonato de pontos corridos de 1970 tendo chances de levar o título. A cidade estava em contagiante animação, apesar do Goiânia, que jogava fora de casa, também ter chances, as rádios, os jornais, e os torcedores apostaram que o campeão sairia daquela tarde de domingo, 13 de dezembro de 1970, no Estádio Olímpico. O Vila era o campeão do ano anterior, com craques como Curió, Mosca, Guilherme…O Atlético tinha Paguetti, Luizinho, Pedro Bala, Toninho Índio, e tinha contratado Zé Geraldo do Vila. Esse Atletigre se tornou, na prática, uma Final, vitória do Vila dava o título aos colorados, empate ou vitória aos atleticanos…

As duas maiores torcidas da época faziam um barulho ensurdecedor, o Olímpico dividido meio a meio, o torcedor símbolo do Dragão era Maurício “Respeita as Cores”, com seu bumbo, e também Dona Maria Leila, à frente da Torcida Feminina. Já do lado vilanovense a festa tinha como destaque a fanática Mãe Carmen. Jogo disputado e no finalzinho do jogo o craque do Vila Nova, o meia Mosca (que depois irá se destacar no Corinthians e Ponte Preta, sendo inclusive capa de revista Placar), dá um chute do meio de campo, e o goleiro rubro negro Pedro Bala tira a bola do ngulo. Segundo o jornalista José Carlos Rangel, a defesa mais difícil que ele já viu em mais de 50 anos de carreira como jornalista esportivo.

Empate confirmado, Dragão campeão goiano de 1970, e com o empate do Goiânia no outro jogo o Vila que poderia ser campeão acaba ficando na terceira colocação.

1979 – Dessa vez o empate deu o título ao Vila Nova

O Campeonato Goiano de 1979 teve seu título decidido em um hexagonal final. Vila Nova e Atlético chegaram à última rodada, que marcava um confronto entre eles, com chances de título. Ao contrário de 1970, dessa vez o empate dava o título ao Vila Nova, já o Atlético precisava de uma vitória para levar a taça para o bairro de Campinas.

O jogo ocorreu em um estádio Serra Dourada lotado e as torcidas dos dois times mostravam que o Atletigre, apesar dos anos de jejum do Dragão, ainda fazia jus ao título de “Clássico dos Milhões”, estava empatado. O Atlético pressionava, mas não fazia, Reinaldo e Gilberto eram as grandes armas ofensivas do Dragão. O Vila defendia bem com Luis Dário e Roberto Oliveira, mantinha-se o 0 a 0…. Quando a bola saiu pela lateral, aos 43 minutos do segundo tempo, a torcida do Vila Nova invadiu o campo. O árbitro encerrou a partida antes dela acabar e a torcida do Vila Nova seguiu comemorando o tricampeonato. A polêmica foi parar no Tapetão e a Federação Goiana de Futebol (FGF) confirmou o título do Tigre.

Um Clássico de muita História a ser contada

É claro que, como um atleticano apaixonado, vou me apegar às memórias e relatos dos jogos decisivos contra o Vila e que terminaram com o grito de DEU DRAGÃO! (Como no Torneio da Integração Nacional de 1971, na conquista da Copa Goiânia de 1998, e nas eliminações e vitórias sobre os colorados nas semifinais do Campeonato Goiano de 2019 e 2022).

Meus amigos do Tigrão com certeza têm suas lembranças favoritas. Entre colorados e rubro-negros uns vão se apegar ao retrospecto geral do confronto, com 105 vitórias para o Vila e 97 para o Atlético, outros ao retrospecto no campeonato goiano, desde 1944, com 63 vitórias para o Dragão e 58 para o Tigre. Mas, o fato é que continua cada vez mais atual o embate entre dois times que se orgulham das suas raízes, do seu bairro e da força de suas torcidas. E nada mais justo que em 2023 ver mais uma decisão entre o Tigre e o Dragão.

PAULO WINICIUS TEIXEIRA DE PAULA – HISTORIADOR E PROFESSOR.
DIRETOR DE PATRIMÔNIO HISTÓRICO E CULTURAL DO ATLÉTICO GOIANIENSE

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